segunda-feira, 21 de janeiro de 2013


Heidegger e a “Necessidade de uma retomada da questão do ser.”
Fernando Otávio l. da Silva

Analisando o tópico da primeira parte de “Ser e tempo” de Martin Heidegger, vi a necessidade de me perguntar: Qual a razão ou motivo que levou Heidegger a pensar que o seu tempo precisava urgentemente retomar a questão do ser? E o motivo maior é o homem. O homem está na base de suas reflexões.
Mas antes de responder, é bom lembrar que para uma compreensão da proposição acerca do ser, se faz necessário conhecer a definição que a ontologia antiga dá a ele. Sem isso, o entendimento provavelmente ficará prejudicado.
Bom, o conceito que possibilitou que a ontologia se firmasse como sendo aquilo que melhor explicava o ser e que vigora até nossos dias, foi aquele elaborado por Aristóteles, cujo princípio da não contradição, se firma no postulado de que o Ser É e não pode não ser, ou seja, nela o ser é observado partindo de seus acidentes e não de sua própria existência, isso quer dizer que: sua existência fica submetida a sua essência. O ser se apresenta como a essência presente nos acidentes. Assim a essência é o fator que determina todos os seres. Foi essa mesma ontologia que norteou o pensamento de Platão a Hegel e que agora será contestada por Heidegger. No seu entendimento, ela não fornece, ou melhor, não dá respostas suficientes para uma compreensão satisfatória do  sentido do ser.
Para o nosso autor, ela (ontologia) não responde ao questionamento do ser, especialmente o ser do homem, muito pelo contrário, deixa-o vago e obscuro. Numa carência de sentido. E mais, o ser-em-si, que é o ser do homem fica nevoado e prescindindo de definição, e o que é pior, formou-se em volta da questão do ser um dogma, que quem se atreve a relembrar é acusado de cometer um erro metodológico, mesmo que se apontem as distorções que ela contém. E o mais grave é que essa questão caiu no esquecimento e muitos apontam como inútil o seu resgate. Mas a questão tem procedência, e não deve ser considerada uma questão qualquer, pois visa conhecer o ser partindo das possibilidades do que ele possa ser. E aqui está o grande equivoco da ontologia achar que o ser fato dado e acabado.  Seu grande erro, segundo Heidegger, é que ela busca conhecer o ser partindo dos predicados como forma de determinação do ser. Desse modo subentende-se que todos os seres, sem exceção, possuem predicados, inclusive o ser do homem.
É essa forma equivocada de pensar o ser que faz como que Heidegger levante e aponte a necessidade de uma retomada da questão do ser, não somente como forma de resgatar o ser do homem do esquecimento, da trivialidade e do obscurantismo, mas também por considerar vital para a compreensão do que vem a ser o ser do homem.
Nas suas elucubrações aponta as falhas que a ontologia comete quando se reporta ao ser do homem e parte com o intuito de corrigi-las. Essa sua partida não visa destruir a ontologia, visto que ela própria serve de base para o seu pensamento. O que deseja realmente e re-elaborar o ser do homem, mas sob uma nova perspectiva.Mas como se dará essa nova perspectiva?  Calma! já explico.
Como disse ainda pouco, na ontologia antiga, os predicados é quem determina o ser, ou seja, eles servem de mediadores para a compreensão do ser. O que Heidegger pretende é justamente achar uma forma de conhecer o ser por ele mesmo, sem fazer  uso de mediadores para a compreensão do ser.
Segundo nosso autor o ser do homem é desprovido de qualquer predicado, nenhum conceito pode determina-lo. O homem não é uma coisa, um objeto do qual se possa formular uma definição a partir de conceitos superiores e nem explicá-lo através de conceitos inferiores, para daí determinar sua essência. Logo podemos inferir que os fundamentos que a antiga ontologia usa para determinar as coisas, são inapropriados para explicar o ser. Como assim, inapropriadas! Ora as coisas, ou os entes são definidos a partir de suas propriedades e atributos. Sua essência advém daí. O ser do homem, que é o ser-aí, que é o estar presente, somente faz sentido na existência. O homem é ser de existência e não de essência. E mais, sua existência só tem sentido na busca. O homem que é um ser de existência, somente tem sentido quando parte para sua definição, é essa definição está inevitavelmente ligada a realização de um  projeto. Mas esse  projeto  está sempre e constantemente  por se concluir. Não existe um porto de chegada, só de partida, porque se tiver chegada, um ponto final, não haverá mais existência pelo simples fato de se constatar a conclusão, e a conclusão não é fator de determinação. O que determina o ser do homem é sua indefinição,  incompletude.  Sua busca em ser alguma coisa, o leva sempre a projetar-se a diante, não como forma de autoafirmação, mas é um meio dele marcar presença, se fazer presente. O homem é um ser vazio, que precisa ser preenchido com sentidos, e sentidos são construídos e transformados mediante relações que estabelecemos com os outros.
Diante do que foi exposto um fato é certo, toda projeção está submetida a três condicionantes, a primeira condição se refere quando o ser-aí, ser de presença se relaciona com o mundo. O mundo lhe impõem limites mais também possibilidades de realizar os projetos projetados. A segunda condição se refere quando o ser de presença, o ser-aí se relaciona com os outros, ou seja, o meio social funciona ao mesmo tempo como fonte de projeções e de limites para elas. A terceira condição se estabelece pela relação ser e morte. Todos nós somos conscientes e temos certeza de que um dia iremos morrer, mas essa certeza não estabelece o dia nem a hora, permitindo-nos um tempo para nos projetar. Mesmo que a morte seja mais um entre tantos elementos circunstanciosos e impeditiva de realizações de projetos. Mesmo com toda essa carga de negatividade, mesmo com tudo isso, ela ainda serve como impulso para o homem se projetar na construção de si mesmo. Ela pede que o homem seja rápido em se projetar. Sem a consciência da morte, não teríamos a existência da urgência de nos projetar nem de realizar os projetos engendrados.
Quando Heidegger insiste na necessidade de uma  retomada da questão do ser, pretende, não só recolocar o ser em discussão, mais também valoriza-lo. E para isso propõem a re-eleboração do ser, partindo da própria desconstrução do ser, ou seja, desfazer o que, ao longo da história da filosofia é transmitido como sendo o sentido certo e inquestionável do ser. Como afirma Stein, ”Heidegger pretende superar essa eterna aporia da metafísica colocando o homem, com sua facticidade e historicidade, já sempre para fora de si mesmo, para dentro da compreensão do ser como existência. A condição fática existencial revela uma estrutura própria do homem. Não são categorias que o explicam, mas existências que permitem compreende-lo.” O homem que pensa sobre sua própria existência é capaz de construir uma vida mais fecunda e, por consequência, um mundo melhor.
Enquanto não houver uma profunda compreensão de quem é o homem, partindo pelo entendimento do sentido do ser, não se terá as condições necessárias para dar avanços no que diz respeito à caminhada da humanidade. 

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