QUANDO
O ASSUNTO É A VERDADE: ENSAIO SOBRE O CAPÍTULO “O CONCEITO CORRENTE DE VERDADE”
DA OBRA “SOBRE A ESSÊNCIA DA VERDADE” DE MARTIN HEIDEGGER.
RAFAEL
NONATO GONÇALVES CARDOSO
Há muito mais do que uma percepção comum no conceito que
abrange a verdade em Heidegger. Comumente quando nos deparamos com o assunto
sobre verdade, buscamos sempre o ponto certo que faz com que tenhamos certeza
de algo, sendo este algo verdadeiro. O verdadeiro sempre é o mais confiável, o
caminho correto, é onde devemos colocar nossos pés e partirmos, é o elemento de
confiança. O que não podemos negar é que a verdade é o fator mais desejado pelo
homem, é aquilo que ele busca, a verdade sobre sua vida, a verdade sobre seus
problemas – a verdadeira solução deles –, e mais que tudo, a verdade esta, que
apaga a mentira, que desvela.
Entretanto, em Heidegger, é perceptível a quebra de um
padrão e a introdução do olhar filosófico perante tal, e é bem quando ele toma
essa postura bastante interessante em relação a toda noção de verdade
apresentadas durante do desenvolver filosófico, que os conceitos vão
sobressaindo e transformando-se em palavras profundas, em significados
elaborados.
A verdade em Martin Heidegger não se contenta em apenas
dizer que a verdade é um fator verdadeiro e correto, ela é aquilo que é:
puramente real. Heidegger acentua esse título, e diz que toda a verdade é pura,
pois é um fator verdadeiro, claro, e portanto, puro. Não só isso, ele quer
dizer que a sua realidade, seu aspecto como real, está relacionado à sua
intervenção e ação perante a realidade, e que faz sentindo porque o único fato
que é real é aquele que ocorre com a verdade em si, tornando-a verdadeira.
Esclarecer, portanto que a verdade, o verdadeiro é real,
e o falso é irreal, é ir de contra com Heidegger. Para ele, o falso também é
real, e por mais que seja apenas uma aparência em formação irreal, o falso não
está nem em um grau superior, tampouco em um grau inferior da verdade real. A
verdade real, inclusive, é autêntica. Quero dizer que a verdade real faz
conexão com aquilo que entendemos de algo, ou seja, o ente, a coisa real e
autêntica, vem como reflexo de que ela é em concordância do que entendemos que
ela seja.
O ponto chave para entender essa verdade, e o que
declaramos como a própria, é a relação que vem de um ente está de acordo com o
que está de acordo com o indivíduo, ou seja, o ente deve fazer uma conexão com
a ideia que o individuo tem daquele ente, o que faz com que o indivíduo
compreenda o ente e o torne verdadeiro. O que está de acordo comigo, em relação
ao ente, faz sentido. Certamente também há uma resolução do que é a
concordância, e o que há de aceitação é o que propormos, o que classificamos e
colocando como verdade. Aí está o ponto! O que propormos ser verdade é que vai
de concordância, é o que faz sentindo ao que é real, ao que é reflexo da nossa
realidade, e portanto, é verdadeiro. Quero dizer que o que propormos como
verdade está ligada ao conhecimento de mundo que temos sobre um ente, e que faz
dele autêntico ou não.
A frase em latim “Veritas
est adaequatio
rei et intellectus”
faz menção ao fluxo entre ente-conhecimento e conhecimento-ente. Nosso
conhecimento pode dá sentindo a um ente, torná-lo puro e real, assim também
como o ente pode dá sentindo ao nosso conhecimento, talvez introduzindo
informações a mais sobre o conhecimento.
A concepção de que a idéia
está de acordo com o intelecto, ou seja, o ente está de acordo com o
conhecimento, vem de uma ideologia seguida na Idade Média, onde a filosofia era
usada como instrumento de idéias cristãs, de complementação e enriquecimento.
Essa ideia de ente-conhecimento
vem sendo desenvolvida desde quando, na própria visão de verdade no período
medieval, acreditava-se que tamanho fluxo tinha relação com um conhecimento
maior, um “intellectus
divinus”,
que, de acordo com o cristianismo, é Deus. Sendo assim, o ente, tendo uma
ligação direta com Deus, é verdadeiro. Nesse fluxo, encontramos o fato de que o
homem torna verdadeiro o ente, pois ele pensa nele através da ideia que se conforma. Logo, o homem conforma-se com a ideia para poder conformar-se com o ente.
É também coloca uma mesma linha de pensamento, não se
distanciando muito do que já foi posto, mas abrindo um novo caminho em relação
ao desmembramento dos princípios teológicos. Há então um efeito lógico,
seguindo uma razão estabelecida, que faz com que os entes sigam uma linha de
idéias que fazem sentindo em seus contextos, em todo esse fluxo de concordância
entre o conhecimento e o ente.
Entrando em um aspecto oposto, assim como há a verdade,
elemento de conformidade, ator puro e real, há um oposto, um contrário, um
elemento, talvez, antagônico que classifica o outro lado da verdade. A
não-verdade é o que rompe com a essência da verdade, e rompe com o caráter verdadeiro
de um ente. Não cabe a não-verdade somente ser o contrário da verdade, mas ela
é capaz de envolver, de dizer respeito à verdade, quando essa parte contrária
for ignorada.
Por fim, após tanto o que aprender diante desta
perspectiva de verdade, atuo dizendo, em um posicionamento próprio, que a
verdade acaba por ser relativa de indivíduo para indivíduo, acaba por se
adaptar, encontrando propriedades significativas em uns e em outros. A verdade
vem com a condição de está de acordo com o que eu, você, nós entendemos –
colocando assim a verdade como algo que está de mãos dadas com o meu
conhecimento, que faz reflexo ao que conheço. Eu posso dizer que um livro é um
livro porque esse acumulado de informações digitalizadas em uma quantidade
suficiente de folhas representa um livro para mim, e conseqüentemente, essa
representação chega a ser uma verdade, a verdade em relação ao que é um livro.
A verdade, então, acaba sendo aquilo que eu conheço. Pois
o que eu sou é o que eu proponho ao mundo, e o que eu proponho ao mundo faz
relação ao que o mundo significa para mim, entrando em concordância com meu
intelecto.