sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

QUANDO O ASSUNTO É A VERDADE:


QUANDO O ASSUNTO É A VERDADE: ENSAIO SOBRE O CAPÍTULO “O CONCEITO CORRENTE DE VERDADE” DA OBRA “SOBRE A ESSÊNCIA DA VERDADE” DE MARTIN HEIDEGGER.

RAFAEL NONATO GONÇALVES CARDOSO 
Há muito mais do que uma percepção comum no conceito que abrange a verdade em Heidegger. Comumente quando nos deparamos com o assunto sobre verdade, buscamos sempre o ponto certo que faz com que tenhamos certeza de algo, sendo este algo verdadeiro. O verdadeiro sempre é o mais confiável, o caminho correto, é onde devemos colocar nossos pés e partirmos, é o elemento de confiança. O que não podemos negar é que a verdade é o fator mais desejado pelo homem, é aquilo que ele busca, a verdade sobre sua vida, a verdade sobre seus problemas – a verdadeira solução deles –, e mais que tudo, a verdade esta, que apaga a mentira, que desvela. 
Entretanto, em Heidegger, é perceptível a quebra de um padrão e a introdução do olhar filosófico perante tal, e é bem quando ele toma essa postura bastante interessante em relação a toda noção de verdade apresentadas durante do desenvolver filosófico, que os conceitos vão sobressaindo e transformando-se em palavras profundas, em significados elaborados. 
A verdade em Martin Heidegger não se contenta em apenas dizer que a verdade é um fator verdadeiro e correto, ela é aquilo que é: puramente real. Heidegger acentua esse título, e diz que toda a verdade é pura, pois é um fator verdadeiro, claro, e portanto, puro. Não só isso, ele quer dizer que a sua realidade, seu aspecto como real, está relacionado à sua intervenção e ação perante a realidade, e que faz sentindo porque o único fato que é real é aquele que ocorre com a verdade em si, tornando-a verdadeira. 
Esclarecer, portanto que a verdade, o verdadeiro é real, e o falso é irreal, é ir de contra com Heidegger. Para ele, o falso também é real, e por mais que seja apenas uma aparência em formação irreal, o falso não está nem em um grau superior, tampouco em um grau inferior da verdade real. A verdade real, inclusive, é autêntica. Quero dizer que a verdade real faz conexão com aquilo que entendemos de algo, ou seja, o ente, a coisa real e autêntica, vem como reflexo de que ela é em concordância do que entendemos que ela seja. 
O ponto chave para entender essa verdade, e o que declaramos como a própria, é a relação que vem de um ente está de acordo com o que está de acordo com o indivíduo, ou seja, o ente deve fazer uma conexão com a ideia que o individuo tem daquele ente, o que faz com que o indivíduo compreenda o ente e o torne verdadeiro. O que está de acordo comigo, em relação ao ente, faz sentido. Certamente também há uma resolução do que é a concordância, e o que há de aceitação é o que propormos, o que classificamos e colocando como verdade. Aí está o ponto! O que propormos ser verdade é que vai de concordância, é o que faz sentindo ao que é real, ao que é reflexo da nossa realidade, e portanto, é verdadeiro. Quero dizer que o que propormos como verdade está ligada ao conhecimento de mundo que temos sobre um ente, e que faz dele autêntico ou não. 
A frase em latim “Veritas est adaequatio rei et intellectus” faz menção ao fluxo entre ente-conhecimento e conhecimento-ente. Nosso conhecimento pode dá sentindo a um ente, torná-lo puro e real, assim também como o ente pode dá sentindo ao nosso conhecimento, talvez introduzindo informações a mais sobre o conhecimento. 
A concepção de que a idéia está de acordo com o intelecto, ou seja, o ente está de acordo com o conhecimento, vem de uma ideologia seguida na Idade Média, onde a filosofia era usada como instrumento de idéias cristãs, de complementação e enriquecimento. Essa ideia de ente-conhecimento vem sendo desenvolvida desde quando, na própria visão de verdade no período medieval, acreditava-se que tamanho fluxo tinha relação com um conhecimento maior, um “intellectus divinus”, que, de acordo com o cristianismo, é Deus. Sendo assim, o ente, tendo uma ligação direta com Deus, é verdadeiro. Nesse fluxo, encontramos o fato de que o homem torna verdadeiro o ente, pois ele pensa nele através da ideia que se conforma. Logo, o homem conforma-se com a ideia para poder conformar-se com o ente. 
É também coloca uma mesma linha de pensamento, não se distanciando muito do que já foi posto, mas abrindo um novo caminho em relação ao desmembramento dos princípios teológicos. Há então um efeito lógico, seguindo uma razão estabelecida, que faz com que os entes sigam uma linha de idéias que fazem sentindo em seus contextos, em todo esse fluxo de concordância entre o conhecimento e o ente. 
Entrando em um aspecto oposto, assim como há a verdade, elemento de conformidade, ator puro e real, há um oposto, um contrário, um elemento, talvez, antagônico que classifica o outro lado da verdade. A não-verdade é o que rompe com a essência da verdade, e rompe com o caráter verdadeiro de um ente. Não cabe a não-verdade somente ser o contrário da verdade, mas ela é capaz de envolver, de dizer respeito à verdade, quando essa parte contrária for ignorada. 
Por fim, após tanto o que aprender diante desta perspectiva de verdade, atuo dizendo, em um posicionamento próprio, que a verdade acaba por ser relativa de indivíduo para indivíduo, acaba por se adaptar, encontrando propriedades significativas em uns e em outros. A verdade vem com a condição de está de acordo com o que eu, você, nós entendemos – colocando assim a verdade como algo que está de mãos dadas com o meu conhecimento, que faz reflexo ao que conheço. Eu posso dizer que um livro é um livro porque esse acumulado de informações digitalizadas em uma quantidade suficiente de folhas representa um livro para mim, e conseqüentemente, essa representação chega a ser uma verdade, a verdade em relação ao que é um livro. 
A verdade, então, acaba sendo aquilo que eu conheço. Pois o que eu sou é o que eu proponho ao mundo, e o que eu proponho ao mundo faz relação ao que o mundo significa para mim, entrando em concordância com meu intelecto.   

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013


Heidegger e a “Necessidade de uma retomada da questão do ser.”
Fernando Otávio l. da Silva

Analisando o tópico da primeira parte de “Ser e tempo” de Martin Heidegger, vi a necessidade de me perguntar: Qual a razão ou motivo que levou Heidegger a pensar que o seu tempo precisava urgentemente retomar a questão do ser? E o motivo maior é o homem. O homem está na base de suas reflexões.
Mas antes de responder, é bom lembrar que para uma compreensão da proposição acerca do ser, se faz necessário conhecer a definição que a ontologia antiga dá a ele. Sem isso, o entendimento provavelmente ficará prejudicado.
Bom, o conceito que possibilitou que a ontologia se firmasse como sendo aquilo que melhor explicava o ser e que vigora até nossos dias, foi aquele elaborado por Aristóteles, cujo princípio da não contradição, se firma no postulado de que o Ser É e não pode não ser, ou seja, nela o ser é observado partindo de seus acidentes e não de sua própria existência, isso quer dizer que: sua existência fica submetida a sua essência. O ser se apresenta como a essência presente nos acidentes. Assim a essência é o fator que determina todos os seres. Foi essa mesma ontologia que norteou o pensamento de Platão a Hegel e que agora será contestada por Heidegger. No seu entendimento, ela não fornece, ou melhor, não dá respostas suficientes para uma compreensão satisfatória do  sentido do ser.
Para o nosso autor, ela (ontologia) não responde ao questionamento do ser, especialmente o ser do homem, muito pelo contrário, deixa-o vago e obscuro. Numa carência de sentido. E mais, o ser-em-si, que é o ser do homem fica nevoado e prescindindo de definição, e o que é pior, formou-se em volta da questão do ser um dogma, que quem se atreve a relembrar é acusado de cometer um erro metodológico, mesmo que se apontem as distorções que ela contém. E o mais grave é que essa questão caiu no esquecimento e muitos apontam como inútil o seu resgate. Mas a questão tem procedência, e não deve ser considerada uma questão qualquer, pois visa conhecer o ser partindo das possibilidades do que ele possa ser. E aqui está o grande equivoco da ontologia achar que o ser fato dado e acabado.  Seu grande erro, segundo Heidegger, é que ela busca conhecer o ser partindo dos predicados como forma de determinação do ser. Desse modo subentende-se que todos os seres, sem exceção, possuem predicados, inclusive o ser do homem.
É essa forma equivocada de pensar o ser que faz como que Heidegger levante e aponte a necessidade de uma retomada da questão do ser, não somente como forma de resgatar o ser do homem do esquecimento, da trivialidade e do obscurantismo, mas também por considerar vital para a compreensão do que vem a ser o ser do homem.
Nas suas elucubrações aponta as falhas que a ontologia comete quando se reporta ao ser do homem e parte com o intuito de corrigi-las. Essa sua partida não visa destruir a ontologia, visto que ela própria serve de base para o seu pensamento. O que deseja realmente e re-elaborar o ser do homem, mas sob uma nova perspectiva.Mas como se dará essa nova perspectiva?  Calma! já explico.
Como disse ainda pouco, na ontologia antiga, os predicados é quem determina o ser, ou seja, eles servem de mediadores para a compreensão do ser. O que Heidegger pretende é justamente achar uma forma de conhecer o ser por ele mesmo, sem fazer  uso de mediadores para a compreensão do ser.
Segundo nosso autor o ser do homem é desprovido de qualquer predicado, nenhum conceito pode determina-lo. O homem não é uma coisa, um objeto do qual se possa formular uma definição a partir de conceitos superiores e nem explicá-lo através de conceitos inferiores, para daí determinar sua essência. Logo podemos inferir que os fundamentos que a antiga ontologia usa para determinar as coisas, são inapropriados para explicar o ser. Como assim, inapropriadas! Ora as coisas, ou os entes são definidos a partir de suas propriedades e atributos. Sua essência advém daí. O ser do homem, que é o ser-aí, que é o estar presente, somente faz sentido na existência. O homem é ser de existência e não de essência. E mais, sua existência só tem sentido na busca. O homem que é um ser de existência, somente tem sentido quando parte para sua definição, é essa definição está inevitavelmente ligada a realização de um  projeto. Mas esse  projeto  está sempre e constantemente  por se concluir. Não existe um porto de chegada, só de partida, porque se tiver chegada, um ponto final, não haverá mais existência pelo simples fato de se constatar a conclusão, e a conclusão não é fator de determinação. O que determina o ser do homem é sua indefinição,  incompletude.  Sua busca em ser alguma coisa, o leva sempre a projetar-se a diante, não como forma de autoafirmação, mas é um meio dele marcar presença, se fazer presente. O homem é um ser vazio, que precisa ser preenchido com sentidos, e sentidos são construídos e transformados mediante relações que estabelecemos com os outros.
Diante do que foi exposto um fato é certo, toda projeção está submetida a três condicionantes, a primeira condição se refere quando o ser-aí, ser de presença se relaciona com o mundo. O mundo lhe impõem limites mais também possibilidades de realizar os projetos projetados. A segunda condição se refere quando o ser de presença, o ser-aí se relaciona com os outros, ou seja, o meio social funciona ao mesmo tempo como fonte de projeções e de limites para elas. A terceira condição se estabelece pela relação ser e morte. Todos nós somos conscientes e temos certeza de que um dia iremos morrer, mas essa certeza não estabelece o dia nem a hora, permitindo-nos um tempo para nos projetar. Mesmo que a morte seja mais um entre tantos elementos circunstanciosos e impeditiva de realizações de projetos. Mesmo com toda essa carga de negatividade, mesmo com tudo isso, ela ainda serve como impulso para o homem se projetar na construção de si mesmo. Ela pede que o homem seja rápido em se projetar. Sem a consciência da morte, não teríamos a existência da urgência de nos projetar nem de realizar os projetos engendrados.
Quando Heidegger insiste na necessidade de uma  retomada da questão do ser, pretende, não só recolocar o ser em discussão, mais também valoriza-lo. E para isso propõem a re-eleboração do ser, partindo da própria desconstrução do ser, ou seja, desfazer o que, ao longo da história da filosofia é transmitido como sendo o sentido certo e inquestionável do ser. Como afirma Stein, ”Heidegger pretende superar essa eterna aporia da metafísica colocando o homem, com sua facticidade e historicidade, já sempre para fora de si mesmo, para dentro da compreensão do ser como existência. A condição fática existencial revela uma estrutura própria do homem. Não são categorias que o explicam, mas existências que permitem compreende-lo.” O homem que pensa sobre sua própria existência é capaz de construir uma vida mais fecunda e, por consequência, um mundo melhor.
Enquanto não houver uma profunda compreensão de quem é o homem, partindo pelo entendimento do sentido do ser, não se terá as condições necessárias para dar avanços no que diz respeito à caminhada da humanidade. 





ROQUE ZIMMERMANN - UMA ABORDAGEM FILOSÓFICA A PARTIR DE ENRRIQUE DUSSEL

 NAYARA DOS SANTOS DE SANTANA



1 – UMA BREVE BIOGRAFIA

Enrique Dussel nasceu no dia 24 de dezembro 1934 em uma pequena e pobre aldeia da província de Mendoza, Argentina, próxima aos Andes. Filho de médico – portanto situação privilegiada em relação ao povo de seu meio.
Em 1940, após a demissão de seu pai, Dussel muda com a família para a capital, Buenos Aires, mas voltam a morar em Mendoza. Militou na Ação Católica de sua cidade, foi líder estudantil e membro da democracia cristã. Militava em grêmios e movimentos políticos, e devido sua oposição a Péron foi preso em 1954. É evidente dizer que esses fatos marcam seus escritos futuros.
Formou- se em Filosofia na Universidade Nacional de Cuyo, licenciou- se aos 23 anos e partiu para a Espanha com uma bolsa de estudos. Volta à Espanha e termina seu doutourado em 1959.
Na França, em 1961, cursa bacharelado em Teologia e escreve o Dualismo na Antropologia da Cristandade; nesta época trabalhava como bibliotecário universitário na Sorbone. Em 1969 assume a cadeira de ética na Universidade Nacional de Cuyo, que ocupará até 1975. Aqui entra em contato com duas correntes filosóficas distintas – a racionalista – representada por Nímio de Aquim e Francisco Romero – o marxista, por Carlos Astrada, e a neotomista – cujos principais expoentes são Ismael Quiles, Octávio Derisi, Juan Sepich e Alberto Caturelli.
O próximo passo será a Espanha (1957-1959), onde continua sua formação filosófica e onde começa a ver a América Latina como uma totalidade a partir de fora. Sua vocação latino- americana vem desta época. Após rápido, mas muito importante contato com a Itália, Grécia e Oriente Médio, termina o doutorado em filosofia (1959), em Madrid, ‘na Escolástica mais tradicional’, a única admitida pelo regime franquista e a Igreja católica da Espanha.
Entretanto, o que marca efetivamente Dussel são os dois anos que passará em Israel (1960-1961), onde volta para ‘realizar seu projeto de peregrinação às fontes’, sem perder de vista o horizonte da América Latina.
De fato, foi nas montanhas de Damasco que, em 1964, iniciou O Humanismo Semita, obra publicada só em 1969, tendo já então retornado a sua pátria. Nela antecipa o descobrimento do pobre, do outro, do oprimido. Interna- se no Oriente Médio para ‘descobrir o ethos do homem do deserto o ancestral do espanhol, do crioulo da América Latina…’. O descobrimento do pobre, do oprimido , do homem do povo marca daí para frente todo o pensamento do escritor, seja ele filosófo, historiador ou teólogo que é Enrique Dussel. Já em 1961, num dos seus primeiros artigos publicados, o tema do pobre é explícito.
Nos vários meses que esteve na Grécia aperfeiçoou os seus conhecimentos de grego clássico, o que lhe permite, a partir de então, manusear os filosófos helênicos no original, com grande desembaraço. Foí aí também que iniciou a obra El humanismo helênico (1969), publicado em 1975.
De volta à França, licenciou- se em Teologia no Instituto Católico de Paris. Conheceu Claude Tresmontant ‘cuja generosa amizade nos permitiu penetrar com simpatia no pansamento hebreu e cristão primitivo’. Nessa época, iniciou a redação de El dualismo en la antropología de la cristiandad, porque ‘queria unir o pensamento grego ao latino- americano’, nos diz o próprio Dussel.
Dussel, desde o começo de seu magistério valoriza como fato o elemento religioso fortemente presente na estrutura do homem latino- americano.
Terminada esta longa fase de preparação, já marcada com a elaboração de alguns escritos importantes, vemo- lo, em 1966, de regresso à Argentina. Contiua agora no campo específico da filosofia, na paisagem própria da América Latina.
Dussel em meio a conturbada tranformação política da Argentina, segue ensinando na universidade e na rua, sempre questionando e criticando, por isso incomoda. A reação a semelhante postura não tardou. Na noite de outubro de 1973 a casa de Dussel foi dinamitada a mando da direita peronista. Felizmente não houve vítimas fatais. Mas este fato marcou muito a Dussel. Já então acusado de marxismo, finalmente em março de 1975, Dussel é expulso da Universidade Nacional de Cuyo. Dussel toma o caminho do exílio. Em 1976 Dussel é exilado no México, onde consegue lecionar na Universidade Autônoma do México.
É neste contexto, em 1977, são transcritos as conferências de Dussel e nasce Uma filosofia da libertação Latino - Americana.
A Filosofia da Libertação de Dussel teria o propósito de libertar filosófico- politicamente as sociedades latino- americanas. Libertar a filosofia da supremacia européia, pois possuimos valores, crenças distintos àquela. E desejando também uma libertação política da dominação e exploração européia.

2 – O NÃO- SER EM DUSSEL

Perguntamos o que é/ou quem é o ser?, os antigos em resposta diziam - ‘o ser se diz de muitas maneiras’, para filosofia da libertação o ser é o Outro- o ignorado, o negado, como é vista a América Latina em relação ao centro europeu. A América Latina só pode ser vista como ser a partir da alteridade, isto é, a partir da aceitação da existência do outro.
A relação das sociedades latino- americanas com a Europa, uma relação em que a América Latina aparece como dominados e a Europa como dominadores, é justificada pela visão moderna da ontológia da totalidade – é a afirmação do ser absoluto, do ser ‘igual ao eu’, é a negação da alteridade. ‘’Os filósofos modernos criam uma filosófia do eu em que eu sou o único ser existente (uma filosofia egoísta, dominadora) em que tudo e todos com quem se relaciona passam a ser objetos’’. Esse argumento justifica o fato da Europa como dominadora e os latino- americanos como dominados, esses não podendo reagir já que não são.
O mundo estaria dividido em centros e periféria. E a paritr dessa configuração, instala o sistema em que a  Europa aparece como único centro do mundo, justificando sua imposição cultural, e de valores. Fora da totalidade desse sistema existe o outro a paritir da exterioridade (da negação do ser como absoluto).
‘O ser (do sistema) é; o não- ser (além do sistema) é real’, ou seja, além da totalidade do sistema o outro é real, também existe.
Dessa forma, segundo Dussel ‘’o não ser são os bárbaros, eles não são’’, e como só o ser é, ‘’e o único mundo que é o que tem domínio do todo’’. Isso se mantêm porque os que dominam divinizaram o seu mundo de maneira que ele é ‘’eterno e natural’’, e aquele que é de outro mundo não é, sendo ‘’interiorizado ao mundo como coisa’’. Essa é uma ontologia ideologica em que nega a existência do Outro, esse sendo admitido apenas como sendo um objeto a serviço do ser.
Isso justifica a razão de haver tantas guerras e porque ela aparece como origem – as guerras acontecem porque ainda que o homem seja dominado e se convensa de que não é nada, em algum momento pode tentar escapar dessa alienação. O homem que tenta escapar dessa dominação é considerado louco ou criminoso, está seguindo por um caminho que não existe, portanto deve ser resgatado, assassinado pelo sistema, isso ocorre de muitas maneiras – a mais eficaz seria a pedagogia; ou pela repressão, como Dussel quando exilado no méxico; ou fisicamente, como foi Sócrates. ‘’Ou seja, o não- ser é falso e o falso, é o contrário da verdade que é o sistema’’.
E assim o ser é, e seu mundo é único, essa afirmação ontológica foi utilizada pela Europa para exercer sua dominação sobre a América Latina, e esses não poderiam resestir a dominação já que não são. O não-ser de Dussel é o mundo exterior ao mundo do ser, é o Outro, o Outro é o que está fora do sistema de dominação ou que está nele como coisa, é o não-ser.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013


Distinção entre o juízo analítico e sintético.

                                                   Flávio Cordeiro Filho (flcf1992@hotmail.com)

Para entender, mesmo que superficialmente, a distinção entre esses dois juízos é preciso ter em mente, que todo conhecimento inicia a partir da experiência, portanto só é possível conhecer algo, se o objeto analisado estimular os sentidos.
Em principio, a experiência precede qualquer forma de conhecer, mas com isto não está sendo afirmado que todo o processo do conhecimento procede a partir da experiência, fundamentalmente há três formas de conhecimento: “a priori” (consiste em um saber que procede desde o principio), o “a posteiori” (por sua vez consistindo posteriormente, em seguida, a partir da experiência) e o puro que consiste em um conhecimento “a priori”, porém não ocorrendo nenhuma relação com o empírico.
A relação lógica de um sujeito com um predicado chama-se “juízo”, ou seja, todo “juízo” obedece a uma lógica a ser seguida, mas há duas formas para formar esta relação lógica, sendo o juízo analítico e o juízo analítico. Analítico significa “diluente”, “decomponente”; Uma demonstração de juízo analítico é a seguinte sentença: “a esfera é redonda”, é notável que o predicado já esta contido no conceito do sujeito, visto que não há esfera quadrada. Sintético significa “conectante”, “ligante”, um exemplo de juízo sintético é a seguinte frase: “a esfera é dourada”, há um acréscimo no conceito do sujeito, pois neste caso o predicado não está necessariamente contido no conceito do sujeito, pois nem toda esfera é fundamentalmente dourada. Portanto o juízo analítico fundamenta-se a priori da experiência e o juízo sintético fundamenta-se a posteriori da experiência, porém há como existir juízos sintéticos a priori? Com certeza, está é a grande pergunta da obra de Kant.
O próprio Kant cita vários exemplos, alguns até do sendo comum, para explicar a existência de juízos sintéticos a priori, mas neste texto tentarei construir novos exemplos: O clássico postulado “a menor distância entre dois pontos é uma reta” é um bom exemplo de juízo sintético a priori, para quem já sabia a existência desde postulado parece algo banal, mas imaginemos a seguinte situação: Em uma sala crie vários caminhos, inclusive um em linha reta, e nas duas extremidades coloque uma criança e um brinquedo, de forma automática a criança procurará o caminho em linha reta, outro exemplo parecido são os labirintos de revistas infantis, sempre que paramos para fazer uns desses labirintos procuramos o caminho mais reto possível, ou seja, no primeiro caso a criança mesmo sem saber a existência do postulado ela o executou e da mesma forma no segundo caso em que executamos automaticamente o postulado.
Portanto para Kant a ciência deve ser fundamentada em juízos sintéticos a priori, visto que no juízo analítico a priori não há descobertas e nos juízos sintéticos a posteriori é necessária a experiência, sendo assim para Kant a melhor forma de fazer ciência é fundamenta-se em juízos sintéticos a priori que ao mesmo tempo faz descobertas e é compreendido por qualquer um, quase que de forma automática, ou seja, a genialidade da simplicidade, de desvelar o que de tão banal não enxergávamos.

Pensar Solto

Este Blog tem o objetivo de apresentar os textos trabalhados pelos estudantes de Filosofia da Universidade do Estado do Pará. A proposta é que se valendo da ementa da disciplina e das referencias apresentadas em Ontologia II, que eles pudessem se aventurar em escrever algo sem se importar muito se estava de acordo com o que a tradição filosófica concebe como correto. A única obrigação era pensar sobre os textos e produzir um pequeno texto.
Portanto Pensar Solto é a proposta. E o blog é uma construção coletiva.